domingo, 23 de maio de 2010

Revelação (trechos do poema)

Eu quero um amor; mas um amor diferente...
Nunca antes vivido por mim nesta vida.
Nem tampouco inventado, só por mim e alguém imaginado.
Ou talzez, há um lugar a nos esperar:
Tão fora do comum e cheio de surpresas mil...
Quem sabe, um amor estranho, porém verdadeiro, sem igual...
Um tanto quanto esquecido pelas pessoas, mas criado por mim
para somente amá-lo...
Desejá-lo!
Aonde andará? Longe ou perto?
Com que olhos há de olhar-me?
Que carinhos há de trazer-me?
Espero-te! Espero-te!
... Espero-te vestida de flores e em sóis e luas hás de encontrar-me.
Em uma estrela cadente e celeste banhada de brilho radiante e
tempestuoso do meu doce amor.
Sei que em algum lugar também estás a esperar-me...
Com teus braços fortes e corajosos hás de salvar-me desta tortura que é viver sem ti...
... Sei que em algum lugar hás de buscar-me.
Hei de saber que sentes o mesmo, meu doce amor.
(...)
Às vezes, viajo nesta viagem, nesta estrada sem fim.
Onde as árvores acompanha-me e o silêncio nada me diz...
E, na incerteza febril do meu ser; confundo-me e encontro-me.

Capítulo VIII - A paisagem da caminhada e a parada para o descanso (págs: 37 e 38)

A tarde chegou e o sol ardia nas peles morenas da gente indígena.
No caminho, às vezes, verde e outras vezes sofrido e deserto parecia que era revivida toda a história desse povo que como em retratos ou cenários pintavam, nas suas memórias sua vida, nessas imagens que viam a sua frente. Muitas caminhadas já haviam feito, mas dessa vez era diferente, a trajetória seria outra... Por essa razão todos eles recordavam suas vidas como passagens que se pareciam com quadros pintados sobre sua realidade.
Os  mandacarus e xiquexiques apreciam a todo momento. Os canarinhos e pardais eram avistados em galhos de jurema e cajueiros. As araras e marrecos passavam em bandos em revoadas. Era bom sinal, pois haveria de ter algum vestígio de água ali próximo.
Depois de uma enorme subida no solo inclinado e cheio de pedras que rangiam nos pés dos silvícolas, avistaram um pequeno lago.
- Quixaras, um momento de descanso. - proclamou Magé ao erguer seu cajado.
- Pai, sente-se bem? - interrogou Iraguacy preocupada. - Necy!Japê! Ajudem meu pai.
- Iraguacy e eu vamos colher água para molhar seu rosto, meu irmão. - disse Abajara e caminhou rumo ao lago.
Iraguacy colheu água no pequeno vaso de barro e levou ao velho pai cansado, enquanto Necy e Japê abanavam-no com palhas de carnaúba.
- Abarauê! - disse Japê. - Peça aos outros para providenciarem o pescado e a fogueira. Vamos passar a noite que se aproxima aqui.
- Necy. - proferiu Iraguacy. - Providencie a rede de meu pai nesses troncos de árvores.
- Minha filha, teu velho pai está cansado demais para essas viagens e a emoção de chegar ao nosso destino deixaram-me assim. Que o Deus da chuva providencie água para dar de beber a esse chão seco para acalmar os pés doloridos de teu pai.
- Calma, meu pajé, Necy vai providenciar tudo para você passar a noite que chega em descanso. Já as curimatãs estarão assadas no fogo e comerás com a mandioca que sobra.
E, assim dizendo, Iraguacy deixou seu pai aos cuidados de Necy e Abajara.

curimatãs: curimã; pequena tainha (peixe).