Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

BASE I


DO ALFABETO E DOS NOMES PRÓPRIOS ESTRANGEIROS

E SEUS DERIVADOS

1º) O alfabeto da língua portuguesa é formado por vinte e seis letras, cada uma

delas com uma forma minúscula e outra maiúscula:

a A (á) j J (jota) s S (esse)

b B (bê) k K (capa ou cá) t T (tê)

c C (cê) l L (ele) u U (u)

d D (dê) m M (eme) v V (vê)

e E (é) n N (ene) w W (dáblio)

f F (efe) o O (o) x X (xis)

g G (gê ou guê) p P (pê) y Y (ípsilon)

h H (agá) q Q (quê) z Z (zê)

i I (i) r R (erre)

Obs.:

1. Além destas letras, usam-se o ç (cê cedilhado) e os seguintes dígrafos: rr (erre

duplo), ss (esse duplo), ch (cê-agá), lh (ele-agá), nh (ene-agá), gu (guê-u) e

qu (quê-u).

2. Os nomes das letras acima sugeridos não excluem outras formas de as designar.

2º) As letras k, w e y usam-se nos seguintes casos especiais:

a) Em antropónimos/antropônimos originários de outras línguas e seus derivados:

Franklin, frankliniano; Kant, kantistno; Darwin, darwinismo: Wagner,

wagneriano, Byron, byroniano; Taylor, taylorista;

b) Em topónimos/topônimos originários de outras línguas e seus derivados:

Kwanza; Kuwait, kuwaitiano; Malawi, malawiano;

c) Em siglas, símbolos e mesmo em palavras adotadas como unidades de medida

de curso internacional: TWA, KLM; K-potássio (de kalium), W-oeste

(West); kg-quilograma, km-quilómetro, kW-kilowatt, yd-jarda (yard); Watt.

2

3º) Em congruência com o número anterior, mantém-se nos vocábulos derivados

eruditamente de nomes próprios estrangeiros quaisquer combinações gráficas

ou sinais diacríticos não peculiares à nossa escrita que figurem nesses nomes:

comtista, de Comte; garrettiano, de Garrett; jeffersónia/ jeffersônia, de

Jefferson; mülleriano, de Müller; shakesperiano, de Shakespeare.

Os vocábulos autorizados registrarão grafias alternativas admissíveis, em casos

de divulgação de certas palavras de tal tipo de origem (a exemplo de fúcsia/ fúchsia

e derivados, bungavília/ bunganvílea/ bougainvíllea).

4º) Os dígrafos finais de origem hebraica ch, ph e th podem conservar-se em

formas onomásticas da tradição bíblica, como Baruch, Loth, Moloch, Ziph,

ou então simplificar-se: Baruc, Lot, Moloc, Zif. Se qualquer um destes dígrafos,

em formas do mesmo tipo, é invariavelmente mudo, elimina-se: José,

Nazaré, em vez de Joseph, Nazareth; e se algum deles, por força do uso,

permite adaptação, substitui-se, recebendo uma adição vocálica: Judite, em

vez de Judith.

5º) As consoantes finais grafadas b, c, d, g e h mantêm-se, quer sejam mudas,

quer proferidas, nas formas onomásticas em que o uso as consagrou, nomeadamente

antropónimos/antropônimos e topónimos/topônimos da tradição bíblica:

Jacob, Job, Moab, Isaac; David, Gad; Gog, Magog; Bensabat, Josafat.

Integram-se também nesta forma: Cid. em que o d é sempre pronunciado;

Madrid e Valhadolid, em que o d ora é pronunciado, ora não; e Calcem ou Calicut,

em que o t se encontra nas mesmas condições.

Nada impede, entretanto, que dos antropónimos/antropônimos em apreço

sejam usados sem a consoante final Jó, Davi e Jacó.

6º) Recomenda-se que os topónimos/topônimos de línguas estrangeiras se substituam,

tanto quanto possível, por formas vernáculas, quando estas sejam antigas

e ainda vivas em português ou quando entrem, ou possam entrar, no uso

corrente. Exemplo: Anvers, substituído por Antuérpia; Cherbourg, por Cherburgo;

Garonne, por Garona; Genève, por Genebra; Justland, por Jutlândia;

Milano, por Milão; München, por Muniche; Torino, por Turim; Zürich, por

Zurique, etc.

BASE II

DO H INICIAL E FINAL

1º) O h inicial emprega-se:

a) Por força da etimologia: haver, hélice, hera, hoje, hora, homem, humor.

3

b) Em virtude da adoção convencional: hã?, hem?, hum!.

2º) O h inicial suprime-se:

a) Quando, apesar da etimologia, a sua supressão está inteiramente consagrada

pelo uso: erva, em vez de herva; e, portanto, ervaçal, ervanário, ervoso (em

contraste com herbáceo, herbanário, herboso, formas de origem erudita);

b) Quando, por via de composição, passa a interior e o elemento em que figura

se aglutina ao precedente: biebdomadário, desarmonia, desumano, exaurir,

inábil, lobisomem, reabilitar, reaver.

3º) O h inicial mantém-se, no entanto, quando, numa palavra composta, pertence

a um elemento que está ligado ao anterior por meio de hífen: anti-higiénico/

anti-higiênico, contra-haste, pré-história, sobre-humano.

4º) O h final emprega-se em interjeições: ah! oh!

BASE III

DA HOMOFONIA DE CERTOS GRAFEMAS CONSONÂNTICOS

Dada a homofonia existente entre certos grafemas consonânticos, torna-se

necessário diferençar os seus empregos, que fundamentalmente se regulam pela

história das palavras. É certo que a variedade das condições em que se fixam na

escrita os grafemas consonânticos homófomos nem sempre permite fácil diferenciação

dos casos em que se deve empregar uma letra e daqueles em que, diversamente,

se deve empregar outra, ou outras, a representar o mesmo som.

Nesta conformidade, importa notar, principalmente, os seguintes casos:

1º) Distinção gráfica entre ch e x: achar, archote, bucha, capacho, capucho,

chamar, chave, Chico, chiste, chorar, colchão, colchete, endecha, estrebucha,

facho, ficha, flecha, frincha, gancho, inchar, macho, mancha, murchar, nicho,

pachorra, pecha, pechincha, penacho, rachar, sachar, tacho; ameixa, anexim,

baixei, baixo, bexiga, bruxa, coaxar, coxia, debuxo, deixar, eixo, elixir, enxofre,

faixa, feixe, madeixa, mexer, oxalá, praxe, puxar, rouxinol, vexar, xadrez,

xarope, xenofobia, xerife, xícara.

2º) Distinção gráfica entre g, com valor de fricativa palatal, e j: adágio, alfageme,

Álgebra, algema, algeroz, Algés, algibebe, algibeira, álgido, almargem,

Alvorge, Argel, estrangeiro, falange, ferrugem, frigir, gelosia, gengiva, gergelim,

geringonça, Gibraltar, ginete, ginja, girafa, gíria, herege, relógio, sege,

Tânger, virgem; adjetivo, ajeitar, ajeru (nome de planta indiana e de uma espécie

de papagaio), canjerê, canjica, enjeitar, granjear, hoje, intrujice, jeco4

ral, jejum, jeira, jeito, Jeová, jenipapo, jequiri, jequitibá, Jeremias, Jericó, jerimum,

Jerónimo, Jesus, jibóia, jiquipanga, jiquiró, jiquitaia, jirau, jiriti, jitirana,

laranjeira, lojista, majestade, majestoso, manjerico, manjerona, mucujê,

pajé, pegajento, rejeitar, sujeito, trejeito.

3º) Distinção gráfica entre as letras s, ss, c, ç e x, que representam sibilantes surdas:

ânsia, ascensão, aspersão, cansar, conversão, esconso,farsa, ganso, imenso,

mansão, mansarda, manso, pretensão, remanso, seara, seda, Seia,

Sertã, Sernancelhe, serralheiro, Singapura, Sintra, sisa, tarso, terso, valsa;

abadessa, acossar, amassar, arremessar, Asseiceira, asseio, atravessar, benesse,

Cassilda, codesso (identicamente Codessal ou Codassal, Codesseda, Codessoso,

etc.), crasso, devassar, dossel, egresso, endossar, escasso, fosso,

gesso, molosso, mossa, obsessão, pêssego, possesso, remessa, sossegar, acém,

acervo, alicerce, cebola, cereal, Cernache, cetim, Cinfães, Escócia, Macedo,

obcecar, percevejo; açafate, açorda, açúcar, almaço, atenção, berço,

Buçaco, caçanje, caçula, caraça, dançar, Eça, enguiço, Gonçalves, inserção,

linguiça, maçada, Mação, maçar, Moçambique, Monção, muçulmano, murça,

negaça, pança, peça, quiçaba, quiçaça, quiçama, quiçamba, Seiça (grafia que

pretere as erróneas/errôneas Ceiça e Ceissa), Seiçal, Suíça, terço; auxílio,

Maximiliano, Maximino, máximo, próximo, sintaxe.

4º) Distinção gráfica entre s de fim de sílaba (inicial ou interior) e x e z com idêntico

valor fónico/fônico: adestrar, Calisto, escusar, esdrúxulo, esgotar,

esplanada, esplêndido, espontâneo, espremer, esquisito, estender, Estremadura,

Estremoz, inesgotável; extensão, explicar, extraordinário, inextricável, inexperto,

sextante, têxtil; capazmente, infelizmente, velozmente. De acordo

com esta distinção convém notar dois casos:

a) Em final de sílaba que não seja final de palavra, o x = s muda para s sempre

que está precedido de i ou u: justapor, justalinear, misto, sistino (cf. Capela

Sistina), Sisto, em vez de juxtapor, juxtalinear, mixto, sixtina, Sixto.

b) Só nos advérbios em -mente se admite z, com valor idêntico ao de s, em final

de sílaba seguida de outra consoante (cf. capazmente, etc.); de contrário, o s

toma sempre o lugar do z: Biscaia, e não Bizcaia.

5º) Distinção gráfica entre s final de palavra e x e z com idêntico valor fónico/

fônico: aguarrás, aliás, anis, após, atrás, através, Avis, Brás, Dinis, Garcês,

gás, Gerês, Inês, íris, Jesus, jus, lápis, Luís, país, português, Queirós, quis,

retrós, revés, Tomás, Valdês; cálix, Félix, Fénix flux; assaz, arroz, avestruz,

dez, diz, fez (substantivo e forma do verbo fazer), fiz, Forjaz, Galaaz, giz, jaez,

matiz, petiz, Queluz, Romariz, [Arcos de] Valdevez, Vaz. A propósito,

deve observar-se que é inadmissível z final equivalente a s em palavra não

oxítona: Cádis, e não Cádiz.

5

6º) Distinção gráfica entre as letras interiores s, x e z, que representam sibilantes

sonoras: aceso, analisar, anestesia, artesão, asa, asilo, Baltasar, besouro, besuntar,

blusa, brasa, brasão, Brasil, brisa, [Marco de] Canaveses, coliseu, defesa,

duquesa, Elisa, empresa, Ermesinde, Esposende, frenesi ou frenesim,

frisar, guisa, improviso, jusante, liso, lousa, Lousã, Luso (nome de lugar,

homónimo/homônimo de Luso, nome mitológico), Matosinhos, Meneses,

narciso, Nisa, obséquio, ousar, pesquisa, portuguesa, presa, raso, represa, Resende,

sacerdotisa, Sesimbra, Sousa, surpresa, tisana, transe, trânsito, vaso;

exalar, exemplo, exibir, exorbitar, exuberante, inexato, inexorável; abalizado,

alfazema, Arcozelo, autorizar, azar, azedo, azo, azorrague, baliza, bazar, beleza,

buzina, búzio, comezinho, deslizar, deslize, Ezequiel, fuzileiro, Galiza,

guizo, helenizar, lambuzar, lezíria, Mouzinho, proeza, sazão, urze, vazar,

Veneza, Vizela, Vouzela.

BASE IV

DAS SEQUÊNCIAS CONSONÂNTICAS

1º) O c, com valor de oclusiva velar, das seqüências interiores cc (segundo c

com valor de sibilante), cç e ct, e o p das seqüências interiores pc (c com valor

de sibilante), pç e pt, ora se conservam, ora se eliminam.

Assim:

a) Conservam-se nos casos em que são invariavelmente proferidos nas pronúncias

cultas da língua: compacto, convicção, convicto, ficção, friccionar, pacto,

pictural; adepto, apto, díptico, erupção, eucalipto, inepto, núpcias, rapto.

b) Eliminam-se nos casos em que são invariavelmente mudos nas pronúncias

cultas da língua: ação, acionar, afetivo, aflição, aflito, ato, coleção, coletivo,

direção, diretor, exato, objeção; adoção, adotar, batizar, Egito, ótimo.

c) Conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, quando se proferem numa

pronúncia culta, quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre

a prolação e o emudecimento: aspecto e aspeto, cacto e cato, caracteres e

carateres, dicção e dição; facto e fato, sector e setor, ceptro e cetro, concepção

e conceção, corrupto e corruto, recepção e receção.

d) Quando, nas sequências interiores mpc, mpç e mpt se eliminar o p de acordo

com o determinado nos parágrafos precedentes, o m passa a n, escrevendose,

respetivamente, nc, nç e nt: assumpcionista e assuncionista; assumpção e

assunção; assumptível e assuntível; peremptório e perentório, sumptuoso e

suntuoso, sumptuosidade e suntuosidade.

6

2º) Conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, quando se proferem numa

pronúncia culta, quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre

a prolação e o emudecimento: o b da seqüência bd, em súbdito; o b da seqüência

bt, em subtil e seus derivados; o g da seqüência gd, em amígdala,

amigdalácea, amigdalar, amigdalato, amigdalite, amigdalóide, amigdalopatia,

amigdalotomia; o m da seqüência mn, em amnistia, amnistiar, indemne,

indemnidade, indemnizar, omnímodo, omnipotente, omnisciente, etc.; o t da

seqüência tm, em aritmética e aritmético.

BASE V

DAS VOGAIS ÁTONAS

1º.) O emprego do e e do i, assim como o do o e do u em sílaba átona, regula-se

fundamentalmente pela etimologia e por particularidades da história das palavras.

Assim, se estabelecem variadíssimas grafias:

a) Com e e i: ameaça, amealhar, antecipar, arrepiar, balnear, boreal, campeão,

cardeal (prelado, ave, planta; diferente de cardial = "relativo à cárdia"), Ceará,

côdea, enseada, enteado, Floreal, janeanes, lêndea, Leonardo, Leonel, Leonor,

Leopoldo, Leote, linear, meão, melhor, nomear, peanha, quase (em vez

de quási), real, semear, semelhante, várzea; ameixial, Ameixieira, amial, amieiro,

arrieiro, artilharia, capitânia, cordial (adjetivo e substantivo), corno/a,

crânio, criar, diante, diminuir, Dinis, ferregial, Filinto, Filipe (e identicamente

Filipa, Filipinas, etc.), freixial, giesta, Idanha, igual, imiscuir-se, inigualável,

lampião, limiar, Lumiar, lumieiro, pátio, pior, tigela, tijolo, Vimieiro,

Vimioso.

b) Com o e u: abolir, Alpendorada, assolar, borboleta, cobiça, consoada, consoar

costume, díscolo, êmbolo, engolir, epístola, esbafonir-se, esboroar, farândola,

femoral, Freixoeira, girândola, goela, jocoso, mágoa, névoa, nódoa, óbolo,

Páscoa, Pascoal, Pascoela, polir, Rodolfo, tá voa, tavoada, távola, tômbola,

veio (substantivo e forma do verbo vir); açular, água, aluvião, arcuense,

assumir, bulir, camândulas, curtir, curtume, embutir, entupir, fémur/fêmur,

fistula, glândula, ínsua, jucundo, légua, Luanda, lucubração, lugar, mangual,

Manuel, míngua, Nicarágua, pontual, régua, tábua, tabuada, tabuleta, trégua,

vitualha.

2º) Sendo muito variadas as condições etimológicas e histórico-fonéticas em que

se fixam graficamente e e i ou o e u em sílaba átona, é evidente que só a consulta

dos vocabulários ou dicionários pode indicar, muitas vezes, se deve

empregar-se e ou i, se o ou u. Há, todavia, alguns casos em que o uso dessas

vogais pode ser facilmente sistematizado. Convém fixar os seguintes:

7

a) Escrevem-se com e, e não com i, antes da sílaba tónica/tônica, os substantivos

e adjetivos que procedem de substantivos terminados em -elo e -eia, ou com

eles estão em relação direta. Assim se regulam: aldeão, aldeola, aldeota por

aldeia; areal, areeiro, areento, Areosa por areia; aveal por aveia; baleal por

baleia; cadeado por cadeia; candeeiro por candeia; centeeira e centeeino por

centeio; colmeal e colmeeiro por colmeia; correada e correame por correia.

b) Escrevem-se igualmente com e, antes de vogal ou ditongo da sílaba tónica/

tônica, os derivados de palavras que terminam em e acentuado (o qual pode

representar um antigo hiato: ea, ee): galeão, galeota, galeote, de galé; coreano,

de Coreia; daomeano, de Daomé; guineense, de Guiné; poleame e poleeiro,

de polé.

c) Escrevem-se com i, e não com e, antes da sílaba tónica/tônica, os adjetivos e

substantivos derivados em que entram os sufixos mistos de formação vernácula

-iano e -iense, os quais são o resultado da combinação dos sufixos -ano

e -ense com um i de origem analógica (baseado em palavras onde -ano e -

ense estão precedidos de i pertencente ao tema: horaciano, italiano, duniense,

flaviense, etc.): açoriano, acriano (de Acre), camoniamo, goisiano (relativo a

Damião de Góis), siniense (de Sines), sofocliano, torniano, torniense (de

Torre(s)).

d) Uniformizam-se com as terminações -io e -ia (átonas), em vez de -eo e -ea, os

substantivos que constituem variações, obtidas por ampliação, de outros

substantivos terminados em vogal; cúmio (popular), de cume; hástia, de haste;

réstia, do antigo neste, véstia, de veste.

e) Os verbos em -ear podem distinguir-se praticamente, grande número de vezes,

dos verbos em -iar, quer pela formação, quer pela conjugação e formação

ao mesmo tempo. Estão no primeiro caso todos os verbos que se prendem

a substantivos em -elo ou -eia (sejam formados em português ou venham

já do latim); assim se regulam: aldear, por aldeia; alhear, por alheio;

cear por ceia; encadear por cadeia; pean, por pela; etc. Estão no segundo caso

todos os verbos que têm normalmente flexões rizotónicas/rizotônicas em -

eio, -eias, etc.: clarear, delinear, devanear, falsear, granjear, guerrear, hastear,

nomear, semear, etc. Existem, no entanto, verbos em -iar, ligados a substantivos

com as terminações átonas -ia ou -io, que admitem variantes na conjugação:

negoceio ou negocio (cf. negócio); premeio ou premio (cf. prémio/

prêmio); etc.

f) Não é lícito o emprego do u final átono em palavras de origem latina. Escreve-

se, por isso: moto, em vez de mótu (por exemplo, na expressão de moto

próprio); tribo, em vez de tribu.

8

g) Os verbos em -oar distinguem-se praticamente dos verbos em -uar pela sua

conjugação nas formas rizotónicas/rizotônicas, que têm sempre o na sílaba

acentuada: abençoar com o, como abençoo, abençoas, etc.; destoar, com o,

como destoo, destoas, etc.; mas acentuar, com u, como acentuo, acentuas,

etc.

BASE VI

DAS VOGAIS NASAIS

Na representação das vogais nasais devem observar-se os seguintes preceitos:

1º) Quando uma vogal nasal ocorre em fim de palavra, ou em fim de elemento

seguido de hífen, representa-se a nasalidade pelo til, se essa vogal é de timbre

a; por m, se possui qualquer outro timbre e termina a palavra; e por n se é

de timbre diverso de a e está seguida de s: afã, grã, Grã-Bretanha, lã, órfã, sãbraseiro

(forma dialetal; o mesmo que são-brasense = de S. Brás de Alportel);

clarim, tom, vacum, flautins, semitons, zunzuns.

2º) Os vocábulos terminados em -ã transmitem esta representação do a nasal aos

advérbios em -mente que deles se formem, assim como a derivados em que

entrem sufixos iniciados por z: cristãmente, irmãmente, sãmente; lãzudo,

maçãzita, manhãzinha, romãzeira.

BASE VII

DOS DITONGOS

1º) Os ditongos orais, que tanto podem ser tónicos/tônicos como átonos, distribuem-

se por dois grupos gráficos principais, conforme o segundo elemento

do ditongo é representado por i ou u: ai, ei, éi, ui; au, eu, éu, iu, ou: braçais,

caixote, deveis, eirado, farnéis (mas farneizinhos), goivo, goivar, lencóis

(mas lençoizinhos), tafuis, uivar, cacau, cacaueiro, deu, endeusar, ilhéu (mas

ilheuzito), mediu, passou, regougar.

Obs.: Admitem-se, todavia, excepcionalmente, à parte destes dois grupos,

os ditongos grafados ae (= âi ou ai) e ao (âu ou au): o primeiro, representado nos

antropónimos/antropônimos Caetano e Caetana, assim como nos respectivos derivados

e compostos (caetaninha, são-caetano, etc.); o segundo, representado nas

combinações da preposição a com as formas masculinas do artigo ou pronome

demonstrativo o, ou seja, ao e aos.

9

2º) Cumpre fixar, a propósito dos ditongos orais, os seguintes preceitos particulares:

a) É o ditongo grafado ui, e não a seqüência vocálica grafada ue, que se emprega

nas formas de 2ª e 3ª pessoas do singular do presente do indicativo e igualmente

na da 2ª pessoa do singular do imperativo dos verbos em -uir: constituis,

influi, retribui. Harmonizam-se, portanto, essas formas com todos os casos

de ditongo grafado ui de sílaba final ou fim de palavra (azuis, fui, Guardafui,

Rui, etc.); e ficam assim em paralelo gráfico-fonético com as formas

de 2ª e 3ª pessoas do singular do presente do indicativo e de 2ª pessoa do

singular do imperativo dos verbos em -air e em -oer: atrais, cai, sai; móis,

remói, sói.

b) É o ditongo grafado ui que representa sempre, em palavras de origem latina, a

união de um u a um i átono seguinte. Não divergem, portanto, formas como

fluido de formas como gratuito. E isso não impede que nos derivados de

formas daquele tipo as vogais grafadas u e i se separem: fluídico, fluidez (ui).

c) Além dos ditongos orais propriamente ditos, os quais são todos decrescentes,

admite-se, como é sabido, a existência de ditongos crescentes. Podem considerar-

se no número deles as seqüências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas,

tais as que se representam graficamente por ea, eo, ia, ie, io, oa, ua, ue, uo:

áurea, áureo, calúnia, espécie, exímio, mágoa, míngua, ténue/tênue, tríduo.

3º) Os ditongos nasais, que na sua maioria tanto podem ser tónicos/tônicos como

átonos, pertencem graficamente a dois tipos fundamentais: ditongos representados

por vogal com til e semivogal; ditongos representados por uma vogal

seguida da consoante nasal m. Eis a indicação de uns e outros:

a) Os ditongos representados por vogal com til e semivogal são quatro, considerando-

se apenas a língua padrão contemporânea: ãe (usado em vocábulos oxítonos

e derivados), ãi (usado em vocábulos anoxítonos e derivados), ão e

õe. Exemplos: cães, Guimarães, mãe, mãezinha; cãibas, cãibeiro, cãibra, zãibo;

mão, mãozinha, não, quão, sótão, sotãozinho, tão; Camões, orações, oraçõezinhas,

põe, repões. Ao lado de tais ditongos pode, por exemplo, colocarse

o ditongo ũi; mas este, embora se exemplifique numa forma popular como

rũi = ruim, representa-se sem o til nas formas muito e mui, por obediência à

tradição.

b) Os ditongos representados por uma vogal seguida da consoante nasal m são

dois: am e em. Divergem, porém, nos seus empregos:

i) am (sempre átono) só se emprega em flexões verbais: amam, deviam, escreveram,

puseram;

10

ii) em (tónico/tônico ou átono) emprega-se em palavras de categorias morfológicas

diversas, incluindo flexões verbais, e pode apresentar variantes gráficas

determinadas pela posição, pela acentuação ou, simultaneamente, pela posição

e pela acentuação: bem, Bembom, Bemposta, cem, devem, nem, quem,

sem, tem, virgem; Bencanta, Benfeito, Benfica, benquisto, bens, enfim, enquanto,

homenzarrão, homenzinho, nuvenzinha, tens, virgens, amém (variação

do ámen), armazém, convém, mantém, ninguém, porém, Santarém, também;

convêm, mantêm, têm (3as pessoas do plural); armazéns, desdéns, convéns,

reténs; Belenzada, vintenzinho.

BASE VIII

DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA DAS PALAVRAS OXÍTONAS

1º) Acentuam-se com acento agudo:

a) As palavras oxítonas terminadas nas vogais tónicas/tônicas abertas grafadas -

a, -e ou -o, seguidas ou não de -s: está, estás, já, olá; até, é, és, olé, pontapé(

s); avó(s,), dominó(s), paletó(s,), só(s).

Obs.: Em algumas (poucas) palavras oxítonas terminadas em -e tónico/

tônico, geralmente provenientes do francês, esta vogal, por ser articulada nas

pronúncias cultas ora como aberta ora como fechada, admite tanto o acento agudo

como o acento circunflexo: bebé ou bebê, bidé ou bidê, canapé ou canapê,

caraté ou caratê, croché ou crochê, guichê ou guichê, matiné ou matinê, nené ou

nenê, ponjé ou ponjê, puré ou purê, rapé ou rapê.

O mesmo se verifica com formas como cocó e cocô, ré (letra do alfabeto

grego) e ré. São igualmente admitidas formas como judô, a par de judo, e metrô,

a par de metro.

b) As formas verbais oxítonas, quando, conjugadas com os pronomes clíticos

lo(s) ou la(s), ficam a terminar na vogal tónica/tônica aberta grafada -a, após

a assimilação e perda das consoantes finais grafadas -r, -s ou -z: adorá-lo(s)

(de adorar-lo(s)), dá-la(s) (de dar-la(s) ou dá(s)-la(s) ou dá(s)-la(s)), fá-lo(s)

(de faz-lo(s)), fá-lo(s)-às (de far-lo(s)-ás), habita-la(s)-iam (de habitar-la(s)-

iam), tra-la(s)-á (de trar-la(s)-á).

c) As palavras oxítonas com mais de uma sílaba terminadas no ditongo nasal

(presente do indicativo etc.) ou -ens: acém, detém, deténs, entretém, entreténs,

harém, haréns, porém, provém, provéns, também.

d) As palavras oxítonas com os ditongos abertos grafados -éi, éu ou ói, podendo

estes dois últimos ser seguidos ou não de -s: anéis, batéis, fiéis, papéis;

11

céu(s), chapéu(s), ilhéu(s), véu(s); corrói (de correr), herói(s), remói (de remoer),

sóis.

2º) Acentuam-se com acento circunflexo:

a) As palavras oxítonas terminadas nas vogais tónicas/tônicas fechadas que se

grafam -e ou -o, seguidas ou não de -s: cortês, dê, dês (de dar), lê, lês (de

ler), português, você(s); avô(s), pôs (de pôr), robô(s).

b) As formas verbais oxítonas, quando conjugadas com os pronomes clíticos -

lo(s) ou -la(s), ficam a terminar nas vogais tónicas/tônicas fechadas que se

grafam -e ou -o, após a assimilação e perda das consoantes finais grafadas -r,

-s ou -z: detê-lo(s) (de deter-lo-(s)), fazê-la(s) (de fazer-la(s)), fê-lo(s) (de

fez-lo(s)), vê-la(s) (de ver-la(s)), compô-la(s) (de compor-la(s)), repô-la(s)

(de repor-la(s)), pô-la(s) (de por-la(s) ou pôs-la(s)).

3º) Prescinde-se de acento gráfico para distinguir palavras oxítonas homógrafas,

mas heterofónicas/heterofônicas, do tipo de cor (ô), substantivo, e cor (ó), elemento

da locução de cor; colher (ê), verbo, e colher (é), substantivo. Excetua-

se a forma verbal pôr, para a distinguir da preposição por.

BASE IX

DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA DAS PALAVRAS PAROXÍTONAS

1º) As palavras paroxítonas não são em geral acentuadas graficamente: enjoo,

grave, homem, mesa, Tejo, vejo, velho, voo; avanço, floresta; abençoo, angolano,

brasileiro; descobrimento, graficamente, moçambicano

2º) Recebem, no entanto, acento agudo:

a) As palavras paroxítonas que apresentam, na sílaba tónica/tônica, as vogais

abertas grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam em -l, -n, -r, -x e -ps,

assim como, salvo raras exceções, as respectivas formas do plural, algumas

das quais passam a proparoxítonas: amável (pl. amáveis), Aníbal, dócil (pl.

dóceis), dúctil (pl. dúcteis), fóssil (pl. fósseis), réptil (pl. répteis; var. reptil,

pl. reptis); cármen (pl. cármenes ou carmens; var. carme, pl. carmes); dólmen

(pl. dólmenes ou dolmens), éden (pl. édenes ou edens), líquen (pl. líquenes),

lúmen (pl. lúmenes ou lúmens); acúcar (pl. açúcares), almíscar (pl. almíscares),

cadáver (pl. cadáveres), caráter ou carácter (mas pl. carateres ou caracteres),

ímpar (pl. ímpares); Ájax, córtex (pl. córtex; var. córtice, pl. córtices,

índex (pl. índex; var. índice, pl. índices), tórax (pl. tórax ou tóraxes; var. torace,

pl. toraces); bíceps (pl. bíceps; var. bicípite, pl. bicípites), fórceps (pl.

fórceps; var. fórcipe, pl. fórcipes).

12

Obs.: Muito poucas palavras deste tipo, com a vogais tónicas/tônicas grafadas

e e o em fim de sílaba, seguidas das consoantes nasais grafadas m e n, apresentam

oscilação de timbre nas pronúncias cultas da língua e, por conseguinte,

também de acento gráfico (agudo ou circunflexo): sémen e sêmen, xénon e xênon;

fêmure fémur, vómer e vômer; Fénix e Fênix, ónix e ônix.

b) As palavras paroxítonas que apresentam, na sílaba tónica/tônica, as vogais

abertas grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam em -ã(s), -ão(s), -ei(s),

-i(s), -um, -uns ou -us: órfã (pl. órfãs), acórdão (pl. acórdãos), órgão (pl. órgãos),

órgão (pl. órgãos), sótão (pl. sótãos); hóquei, jóquei (pl. jóqueis), amáveis

(pl. de amável), fáceis (pl. de fácil), fósseis (pl. de fóssil), amáreis

(de amar), amáveis (id.), cantaríeis (de cantar), fizéreis (de fazer), fizésseis

(id.); beribéri (pl. beribéris), bílis (sg. e pl.), íris (sg. e pl.), júri (di. júris), oásis

(sg. e pl.); álbum (di. álbuns), fórum (di. fóruns); húmus (sg. e pl.), vírus

(sg. e pl.).

Obs.: Muito poucas paroxítonas deste tipo, com as vogais tónicas/tônicas

grafadas e e o em fim de sílaba, seguidas das consoantes nasais grafadas m e n,

apresentam oscilação de timbre nas pronúncias cultas da língua, o qual é assinalado

com acento agudo, se aberto, ou circunflexo, se fechado: pónei e pônei; gónis

e gônis, pénis e pênis, ténis e tênis; bónus e bônus, ónus e ônus, tónus e tônus,

Vénus e Vênus.

3º) Não se acentuam graficamente os ditongos representados por ei e oi da sílaba

tónica/tônica das palavras paroxítonas, dado que existe oscilação em muitos

casos entre o fechamento e a abertura na sua articulação: assembleia, boleia,

ideia, tal como aldeia, baleia, cadeia, cheia, meia; coreico, epopeico, onomatopeico,

proteico; alcaloide, apoio (do verbo apoiar), tal como apoio (subst.),

Azoia, hoia, boina, comboio (subst.), tal como comboio, comboias, etc. (do

verbo comboiar), dezoito, estroina, heroico, introito, jiboia, moina, paranoico,

zoina.

4º) É facultativo assinalar com acento agudo as formas verbais de pretérito perfeito

do indicativo, do tipo amámos, louvámos, para as distinguir das correspondentes

formas do presente do indicativo (amamos, louvamos), já que o

timbre da vogal tónica/tônica é aberto naquele caso em certas variantes do

português.

5º) Recebem acento circunflexo:

a) As palavras paroxítonas que contêm, na sílaba tónica/tônica, as vogais fechadas

com a grafia a, e, o e que terminam em -l, -n, -r, ou -x, assim como as

respectivas formas do plural, algumas das quais se tornam proparoxítonas:

cônsul (pl. cônsules), pênsil (pl. pênseis), têxtil (pl. têxteis); cânon, var. cânone

(pl. cânones), plâncton (pl. plânctons); Almodôvar, aljôfar (pl. aljôfa13

res), âmbar (pl. âmbares), Câncer, Tânger; bômbax(sg. e pl.), bômbix, var.

bômbice (pl. bômbices).

b) As palavras paroxítonas que contêm, na sílaba tónica/tônica, as vogais fechadas

com a grafia a, e, o e que terminam em -ão(s), -eis, -i(s) ou -us: bênção(

s), côvão(s), Estêvão, zângão(s); devêreis (de dever), escrevêsseis (de

escrever) ,fôreis (de ser e ir), fôsseis (id.), pênseis (pl. de pênsil), têxteis (pl.

de têxtil); dândi(s), Mênfis; ânus.

c) As formas verbais têm e vêm, 3as pessoas do plural do presente do indicativo

de ter e vir, que são foneticamente paroxítonas (respectivamente / tãjãj /, /

vãjãj / ou /te)e)j/, /ve)e)j/ ou ainda / te)je)j /, / ve)je)j/; cf. as antigas grafias preteridas,

têem, vêem, a fim de se distinguirem de tem e vem, 3as pessoas do singular

do presente do indicativo ou 2as pessoas do singular do imperativo; e

também as correspondentes formas compostas, tais como: abstêm (cf. abstém),

advêm (cf. advém), contêm (cf. contém), convêm (cf. convém), desconvêm

(cf. desconvém), detêm (cf. detem), entretem (cf. entretém), intervêm

(cf. intervém), mantêm (cf. mantém), obtêm (cf. obtém), provêm (cf.

provém), sobrevêm (cf. sobrevém).

Obs.: Também neste caso são preteridas as antigas grafias detêem, intervêem,

mantêem, provêem, etc.

6º) Assinalam-se com acento circunflexo:

a) Obrigatoriamente, pôde (3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo),

no que se distingue da correspondente forma do presente do indicativo

(pode).

b) Facultativamente, dêmos (1ª pessoa do plural do presente do conjuntivo), para

se distinguir da correspondente forma do pretérito perfeito do indicativo

(demos); fôrma (substantivo), distinta de forma (substantivo; 3ª pessoa do

singular do presente do indicativo ou 2ª pessoa do singular do imperativo do

verbo formar).

7º) Prescinde-se de acento circunflexo nas formas verbais paroxítonas que contêm

um e tónico/tônico oral fechado em hiato com a terminação -em da 3ª

pessoa do plural do presente do indicativo ou do conjuntivo, conforme os casos:

creem deem (conj.), descreem, desdeem (conj.), leem, preveem, redeem

(conj.), releem, reveem, tresleem, veem.

8º) Prescinde-se igualmente do acento circunflexo para assinalar a vogal tónica/

tonica fechada com a grafia o em palavras paroxítonas como enjoo, substantivo

e flexão de enjoar, povoo, flexão de povoar, voo, substantivo e flexão

de voar, etc.

14

9º) Prescinde-se, quer do acento agudo, quer do circunflexo, para distinguir palavras

paroxítonas que, tendo respectivamente vogal tónica/tônica aberta ou

fechada, são homógrafas de palavras proclíticas. Assim, deixam de se distinguir

pelo acento gráfico: para (á), flexão de parar, e para, preposição; pela(s)

(é), substantivo e flexão de pelar, e pela(s), combinação de per e la(s); pelo

(é), flexão de pelar, pelo(s) (é), substantivo ou combinação de per e lo(s); polo(

s) (ó), substantivo, e polo(s), combinação antiga e popular de por e lo(s);

etc.

10º) Prescinde-se igualmente de acento gráfico para distinguir paroxítonas homógrafas

heterofónicas/heterofônicas do tipo de acerto (ê), substantivo, e acerto

(é,), flexão de acertar; acordo (ô), substantivo, e acordo (ó), flexão de

acordar; cerca (ê), substantivo, advérbio e elemento da locução prepositiva

cerca de, e cerca (é,), flexão de cercar; coro (ó), substantivo, e flexão de corar;

deste (ê), contração da preposição de com o demonstrativo este, e deste

(é), flexão de dar; fora (ô), flexão de ser e ir, e fora (ó), advérbio, interjeição

e substantivo; piloto (ô), substantivo, e piloto (ó), flexão de pilotar, etc.

BASE X

DA ACENTUAÇÃO DAS VOGAIS TÓNICAS/TÔNICAS

GRAFADAS I E U

DAS PALAVRAS OXÍTONAS E PAROXÍTONAS

1º) As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas

levam acento agudo quando antecedidas de uma vogal com que não formam

ditongo e desde de que não constituam sílaba com a eventual consoante seguinte,

excetuando o caso de s: adaís (pl. de adail), aí, atraí (de atrair), baú,

caís (de cair), Esaú, jacuí, Luís, país, etc.; alaúde, amiúde, Araújo, Ataíde, atraiam

(de atrair), atraísse (id.) baía, balaústre, cafeína, ciúme, egoísmo, faísca,

faúlha, graúdo, influíste (de influir), juízes, Luísa, miúdo, paraíso, raízes,

recaída, ruína, saída, sanduíche, etc.

2º) As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas

não levam acento agudo quando, antecedidas de vogal com que não formam

ditongo, constituem sílaba com a consoante seguinte, como é o caso de nh, l,

m, n, r e z: bainha, moinho, rainha; adail, paul, Raul; Aboim, Coimbra, ruim;

ainda, constituinte, oriundo, ruins, triunfo; atrair, demiurgo, influir, influirmos;

juiz, raiz; etc.

3º) Em conformidade com as regras anteriores leva acento agudo a vogal tónica/

tônica grafada i das formas oxítonas terminadas em r dos verbos em -air e

-uir, quando estas se combinam com as formas pronominais clíticas -lo(s), -

la(s), que levam à assimilação e perda daquele -r: atraí-lo(s,) (de atrair-lo(s));

15

atraí-lo(s)-ia (de atrair-lo(s)-ia); possuí-la(s) (de possuir-la(s)); possuí-la(s)-ia

(de possuir-la(s) -ia).

4º) Prescinde-se do acento agudo nas vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das

palavras paroxítonas, quando elas estão precedidas de ditongo: baiuca, boiuno,

cauila (var. cauira), cheinho (de cheio), sainha (de saia).

5º) Levam, porém, acento agudo as vogais tónicas/tônicas grafadas i e u quando,

precedidas de ditongo, pertencem a palavras oxítonas e estão em posição final

ou seguidas de s: Piauí, teiú, teiús, tuiuiú, tuiuiús.

Obs.: Se, neste caso, a consoante final for diferente de s, tais vogais dispensam

o acento agudo: cauim.

6º) Prescinde-se do acento agudo nos ditongos tónicos/tônicos grafados iu e ui,

quando precedidos de vogal: distraiu, instruiu, pauis (pl. de paul).

7º) Os verbos aguir e redarguir prescindem do acento agudo na vogal tónica/

tônica grafada u nas formas rizotónicas/rizotônicas: arguo, arguis, argui,

arguem; argua, arguas, argua, arguam. O verbos do tipo de aguar, apaniguar,

apaziguar, apropinquar, averiguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir e

afins, por oferecerem dois paradigmas, ou têm as formas rizotónicas/

rizotônicas igualmente acentuadas no u mas sem marca gráfica (a exemplo

de averiguo, averiguas, averigua, averiguam; averigue, averigues, averigue,

averiguem; enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues,

enxague, enxaguem, etc.; delinquo, delinquis, delinqui, delinquem;

mas delinquimos, delin quis) ou têm as formas rizotónicas/rizotônicas acentuadas

fónica/fônica e graficamente nas vogais a ou i radicais (a exemplo de

averíguo, averíguas, averígua, averíguam; averígue, averígues, averígue, averíguem;

enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues, enxágue,

enxáguem; delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquas,

delínqua, delínquam).

Obs.: Em conexão com os casos acima referidos, registre-se que os verbos

em -ingir (atingir, cingir, constringir, infringir, tingir, etc.) e os verbos em -

inguir sem prolação do u (distinguir, extinguir, etc.) têm grafias absolutamente

regulares (atinjo, atinja, atinge, atingimos, etc.; distingo, distinga, distingue, distinguimos,

etc.).

BASE XI

DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA DAS PALAVRAS PROPAROXÍTONAS

1º) Levam acento agudo:

16

a) As palavras proparoxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica as vogais

abertas grafadas a, e, o e ainda i, u ou ditongo oral começado por vogal aberta:

árabe, cáustico, Cleópatra, esquálido, exército, hidráulico, líquido, míope,

músico, plástico, prosélito, público, rústico, tétrico, último;

b) As chamadas proparoxítonas aparentes, isto é, que apresentam na sílaba tónica/

tônica as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i, u ou ditongo oral começado

por vogal aberta, e que terminam por seqüências vocálicas póstónicas/

pós-tônicas praticamente consideradas como ditongos crescentes (-

ea, -eo, -ia, -ie, -io, -oa, -ua, -uo, etc.): álea, náusea; etéreo, níveo; enciclopédia,

glória; barbárie, série; lírio, prélio; mágoa, nódoa; exígua, língua; exíguo,

vácuo.

2º) Levam acento circunflexo:

a) As palavras proparoxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica vogal fechada

ou ditongo com a vogal básica fechada: anacreôntico, brêtema, cânfora,

cômputo, devêramos (de dever), dinâmico, êmbolo, excêntrico, fôssemos

(de ser e ir), Grândola, hermenêutica, lâmpada, lôstrego, lôbrego, nêspera,

plêiade, sôfrego, sonâmbulo, trôpego;

b) As chamadas proparoxítonas aparentes, isto é, que apresentam vogais fechadas

na sílaba tónica/tônica, e terminam por seqüências vocálicas póstónicas/

pós-tônicas praticamente consideradas como ditongos crescentes:

amêndoa, argênteo, côdea, Islândia, Mântua, serôdio.

3º) Levam acento agudo ou acento circunflexo as palavras proparoxítonas, reais

ou aparentes, cujas vogais tónicas/tônicas grafadas e ou o estão em final de

sílaba e são seguidas das consoantes nasais grafadas m ou n, conforme o seu

timbre é, respectivamente, aberto ou fechado nas pronúncias cultas da língua:

académico/acadêmico, anatómico/anatômico, cénico/cênico, cómodo/

cômodo, fenómeno/ fenômeno, género/gênero, topónimo/topônimo; Amazónia/

Amazônia, António/Antônio, blasfémia/blasfêmia, fémea/fêmea,

gémeo/gêmeo, génio/gênio, ténue/tênue.

BASE XII

DO EMPREGO DO ACENTO GRAVE

1º) Emprega-se o acento grave:

a) Na contração da preposição a com as formas femininas do artigo ou pronome

demonstrativo o: à (de a+a), às (de a+as);

17

b) Na contração da preposição a com os demonstrativos aquele, aquela, aqueles,

aquelas e aquilo ou ainda da mesma preposição com os compostos aqueloutro

e suas flexões: àquele(s), àquela(s), àquilo; àqueloutro(s), àqueloutra(s).

BASE XIII

DA SUPRESSÃO DOS ACENTOS EM PALAVRAS DERIVADAS

1º) Nos advérbios em -mente, derivados de adjetivos com acento agudo ou circunflexo,

estes são suprimidos: avidamente (de ávido), debilmente (de débil),

facilmente (de fácil), habilmente (de hábil), ingenuamente (de ingênuo), lucidamente

(de lúcido), mamente (de má), somente (de só), unicamente (de

único), etc.; candidamente (de cândido), cortesmente (de cortês), dinamicamente

(de dinâmico), espontaneamente (de espontâneo), portuguesmente (de

português), romanticamente (de romântico).

2º) Nas palavras derivadas que contêm sufixos iniciados por z e cujas formas de

base apresentam vogal tónica/tônica com acento agudo ou circunflexo, estes

são suprimidos: aneizinhos (de anéis), avozinha (de avó), bebezito (de bebé),

cafezada (de café), chapeuzinho (de chapéu), chazeiro (de chá), heroizito (de

herói), ilheuzito (de ilhéu), mazinha (de má), orfãozinho (de órfão), vintenzito

(de vintém), etc.; avozinho (de avô), bençãozinha (de bênção), lampadazita

(de lâmpada), pessegozito (de pêssego).

BASE XIV

DO TREMA

O trema, sinal de diérese, é inteiramente suprimido em palavras portuguesas

ou aportuguesadas. Nem sequer se emprega na poesia, mesmo que haja separação

de duas vogais que normalmente formam ditongo: saudade, e não saüdade,

ainda que tetrassílabo; saudar, e não saüdar, ainda que trissílabo; etc.

Em virtude desta supressão, abstrai-se de sinal especial, quer para distinguir,

em sílaba átona, um i ou um u de uma vogal da sílaba anterior, quer para

distinguir, também em sílaba átona, um i ou um u de um ditongo precedente,

quer para distinguir, em sílaba tónica/tônica ou átona, o u de gu ou de qu de um

e ou i seguintes: arruinar, constituiria, depoimento, esmiuçar, faiscar, faulhar,

oleicultura, paraibano, reunião; abaiucado, auiqui, caiuá, cauixi, piauiense; aguentar,

anguiforme, arguir, bilíngue (ou bilingue), lingueta, linguista, linguístico;

cinquenta, equestre, frequentar, tranquilo, ubiquidade.

18

Obs.: Conserva-se, no entanto, o trema, de acordo com a Base I, 3º, em palavras

derivadas de nomes próprios estrangeiros: hübneriano, de Hübner, mülleriano,

de Müller, etc.

BASE XV

DO HÍFEN EM COMPOSTOS,

LOCUÇÕES E ENCADEAMENTOS VOCABULARES

1º) Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm

formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral

ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento

próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido:

ano-luz, arce-bispo, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião, rainha-

cláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; alcaide-mor, amorperfeito,

guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense,

sul-africano; afro-asiático, cifro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro,

primeiro-ministro, primeiro-sargento, primo-infeção, segunda-feira; contagotas,

finca-pé, guarda-chuva.

Obs.: Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a

noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva,

pontapé, paraquedas, paraquedista, etc.

2º) Emprega-se o hífen nos topónimos/topônimos compostos, iniciados pelos adjetivos

grã, grão ou por forma verbal ou cujos elementos estejam ligados por

artigo: Grã-Bretanha, Grão-Pará; Abre-Campo; Passa-Quatro, Quebra-

Costas, Quebra-Dentes, Traga-Mouros, Trinca-Fortes; Albergaria-a-Velha,

Baía de Todos-os-Santos, Entre-os-Rios, Montemor-o-Novo, Trás-os-

Montes.

Obs.: Os outros topónimos/topônimos compostos escrevem-se com os elementos

separados, sem hífen: América do Sul, Belo Horizonte, Cabo Verde,

Castelo Branco, Freixo de Espada à Cinta, etc. O topónimo/topônimo Guiné-

Bissau é, contudo, uma exceção consagrada pelo uso.

3º) Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas

e zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento:

abóbora-menina, couve-flor, erva-doce, feijão-verde; benção-dedeus,

erva-do-chá, ervilha-de-cheiro, fava-de-santo-inâcio, bem-me-quer

(nome de planta que também se dá à margarida e ao malmequer); andorinhagrande,

cobra-capelo, formiga-branca; andorinha-do-mar, cobra-d'água, lesma-

de-conchinha; bem-te-vi (nome de um pássaro).

19

4º) Emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes

formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e

semântica e tal elemento começa por vogal ou h. No entanto, o advérbio

bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com palavras começadas por

consoante. Eis alguns exemplos das várias situações: bem-aventurado, bemestar,

bem-humorado; mal-afortunado, mal-estar, mal-humorado; bem-criado

(cf. malcriado), bem-ditoso (cf. malditoso), bem-falante (cf malfalante),

bem-mandado (cf. malmandado). bem-nascido (cf. malnascido) , bem-soante

(cf. malsoante), bem-visto (cf. malvisto).

Obs.: Em muitos compostos, o advérbio bem aparece aglutinado com o segundo

elemento, quer este tenha ou não vida à parte: benfazejo, benfeitor, benquerença,

etc.

5º) Emprega-se o hífen nos compostos com os elementos além, aquém, recém e

sem: além-Atlântico, além-mar, além-fronteiras; aquém-fiar, aquém-

Pireneus; recém-casado, recém-nascido; sem-cerimônia, sem-número, semvergonha.

6º) Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais,

adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o

hífen, salvo algumas exceções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-

de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia,

ao deus-dará, à queima-roupa). Sirvam, pois, de exemplo de emprego sem

hífen as seguintes locuções:

a) Substantivas: cão de guarda, fim de semana, sala de jantar;

b) Adjetivas: cor de açafrão, cor de café com leite, cor de vinho;

c) Pronominais: cada um, ele próprio, nós mesmos, quem quer que seja;

d) Adverbiais: à parte (note-se o substantivo aparte), à vontade, de mais (locução

que se contrapõe a de menos; note-se demais, advérbio, conjunção, etc.), depois

de amanhã, em cima, por isso;

e) Prepositivas: abaixo de, acerca de, acima de, a fim de, a par de, à parte de, apesar

de, aquando de, debaixo de, enquanto a, por baixo de, por cima de,

quanto a;

f) Conjuncionais: afim de que, ao passo que, contanto que, logo que, por conseguinte,

visto que.

7º) Emprega-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se

combinam, formando, não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares

(tipo: a divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade, a ponte Rio20

Niterói, o percurso Lisboa-Coimbra-Porto, a ligação Angola-Moçambique, e

bem assim nas combinações históricas ou ocasionais de topónimos/

topônimos (tipo: Austria-Hungria, Alsácia-Lorena, Angola-Brasil, Tóquio-

Rio de Janeiro, etc.).

BASE XVI

DO HÍFEN NAS FORMAÇÕES POR PREFIXAÇÃO,

RECOMPOSIÇÃO E SUFIXAÇÃO

1º) Nas formações com prefixos (como, por exemplo: ante-, anti-, circum-, co-,

contra-, entre-, extra-, hiper-, infra-, intra-, pós-, pré-, pró-, sobre-, sub-, super-,

supra-, ultra-, etc.) e em formações por recomposição, isto é, com elementos

não autónomos ou falsos prefixos, de origem grega e latina (tais como:

aero-, agro-, arqui-, auto-, hio-, eletro-, geo-, hidro-, inter-, macro-, maxi-,

micro-, mini-, multi-, neo-, pan-, pluri-, proto, pseudo, retro-, semi-, tele-

, etc.), só se emprega o hífen nos seguintes casos:

a) Nas formações em que o segundo elemento começa por h: anti-higiénico/antihigiênico,

circum-hospitalar, co-herdeiro, contra-harmónico/contraharmônico,

extra-humano, pré-história, sub-hepático, super-homem, ultrahiperbólico;

arqui-hipérbole, eletro-higrómetro, geo-história, neohelénico/

neo-helênico, pan-helenismo, semi-hospitalar.

Obs.: Não se usa, no entanto, o hífen em formações que contêm em geral os

prefixos des- e in- e nas quais o segundo elemento perdeu o h inicial: desumano,

desumidificar, inábil, inumano, etc.

b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal

com que se inicia o segundo elemento: anti-ibérico, contra-almirante, infraaxilar,

supra-auricular; arqui-irmandade, auto-observação, eletro-ótica, micro-

onda, semi-interno.

Obs.: Nas formações com o prefixo co-, este aglutina-se em geral com o

segundo elemento mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coocupante, coordenar,

cooperação, cooperar, etc.

c) Nas formações com os prefixos circum- e pan-, quando o segundo elemento

começa por vogal, m ou n (além de h, caso já considerado atrás na alínea a):

circum-escolar, circum-murado, circum-navegação; pan-africano, panmágico,

pan-negritude.

21

d) Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e super-, quando combinados

com elementos iniciados por r: hiper-requintado, inter-resistente, superrevista.

e) Nas formações com os prefixos ex- (com o sentido de estado anterior ou cessamento),

sota-, soto-, vice- e vizo-: ex-almirante, ex-diretor, ex-hospedeira,

ex-presidente, ex-primeiro-ministro, ex-rei; sota-piloto, soto-mestre, vicepresidente,

vice-reitor, vizo-rei.

f) Nas formações com os prefixos tónicos/tônicos acentuados graficamente pós-,

pré- e pró-, quando o segundo elemento tem vida à parte (ao contrário do que

acontece com as correspondentes formas átonas que se aglutinam com o elemento

seguinte): pós-graduação, pós-tónico/pós-tônicos (mas pospor); préescolar,

pré-natal (mas prever); pró-africano, pró-europeu (mas promover).

2º) Não se emprega, pois, o hífen:

a) Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo

elemento começa por r ou s, devendo estas consoantes duplicar-se,

prática aliás já generalizada em palavras deste tipo pertencentes aos domínios

científico e técnico. Assim: antirreligioso, antissemita, contrarregra,

contrassenha, cosseno, extrarregular, infrassom, minissaia, tal como hiorritmo,

hiossatélite. eletrossiderurgia, microssistema, microrradiografia.

b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o segundo

elemento começa por vogal diferente, prática esta em geral já adotada

também para os termos técnicos e científicos. Assim: antiaéreo, coeducação.

extraescolar, aeroespacial, autoestrada, autoaprendizagem, agroindustrial, hidroelétrico,

plurianual.

3º) Nas formações por sufixação apenas se emprega o hífen nos vocábulos terminados

por sufixos de origem tupi-guarani que representam formas adjetivas,

como açu, guaçu e mirim, quando o primeiro elemento acaba em vogal

acentuada graficamente ou quando a pronúncia exige a distinção gráfica dos

dois elementos: amoré-guaçu, anajá-mirim, andá-açu, capim-açu, Ceará-

Mirim.

BASE XVII

DO HÍFEN NA ÊNCLISE, NA TMESE E COM O VERBO HAVER

1º) Emprega-se o hífen na ênclise e na tmese: amá-lo, dá-se, deixa-o, partir-lhe;

amá-lo-ei, enviar-lhe-emos.

22

2º) Não se emprega o hífen nas ligações da preposição de às formas monossilábicas

do presente do indicativo do verbo haver: hei de, hás de, hão de, etc.

Obs.: 1. Embora estejam consagradas pelo uso as formas verbais quer e requer,

dos verbos querer e requerer, em vez de quere e requere, estas últimas

formas conservam-se, no entanto, nos casos de ênclise: quere-o(s), requere-o(s).

Nestes contextos, as formas (legítimas, aliás) qué-lo e requé-lo são pouco usadas.

2. Usa-se também o hífen nas ligações de formas pronominais enclíticas ao advérbio

eis (eis-me, ei-lo) e ainda nas combinações de formas pronominais do

tipo no-lo, vo-las, quando em próclise (por ex.: esperamos que no-lo comprem).

BASE XVIII

DO APÓSTROFO

1º) São os seguintes os casos de emprego do apóstrofo:

a) Faz-se uso do apóstrofo para cindir graficamente uma contração ou aglutinação

vocabular, quando um elemento ou fração respectiva pertence propriamente

a um conjunto vocabular distinto: d'Os Lusíadas, d'Os Sertões; n'Os

Lusíadas, n'Os Sertões; pel'Os Lusíadas, pel'Os Sertões. Nada obsta, contudo,

a que estas escritas sejam substituídas por empregos de preposições íntegras,

se o exigir razão especial de clareza, expressividade ou ênfase: de Os

Lusíadas, em Os Lusíadas, por Os Lusíadas, etc.

As cisões indicadas são análogas às dissoluções gráficas que se fazem, embora

sem emprego do apóstrofo, em combinações da preposição a com palavras

pertencentes a conjuntos vocabulares imediatos: a A Relíquia, a Os Lusíadas (exemplos:

importância atribuída a A Relíquia; recorro a Os Lusíadas). Em tais

casos, como é óbvio, entende-se que a dissolução gráfica nunca impede na leitura

a combinação fonética: a A = à, a Os = aos, etc.

b) Pode cindir-se por meio do apóstrofo uma contração ou aglutinação vocabular,

quando um elemento ou fração respectiva é forma pronominal e se lhe

quer dar realce com o uso de maiúscula: d'Ele, n'Ele, d'Aquele, n'Aquele,

d'O, n'O, pel'O, m'O, t'O, lh'O, casos em que a segunda parte, forma masculina,

é aplicável a Deus, a Jesus, etc.; d'Ela, n'Ela, d'Aquela, n'Aquela, d'A,

n'A, pel'A, tu'A, t'A, lh'A, casos em que a segunda parte, forma feminina, é

aplicável à mãe de Jesus, à Providência, etc. Exemplos frásicos: confiamos

n'O que nos salvou; esse milagre revelou-m'O; está n'Ela a nossa esperança;

pugnemos pel'A que é nossa padroeira.

23

À semelhança das cisões indicadas, pode dissolver-se graficamente, posto

que sem uso do apóstrofo, uma combinação da preposição a com uma forma

pronominal realçada pela maiúscula: a O, a Aquele, a Aquela (entendendo-se

que a dissolução gráfica nunca impede na leitura a combinação fonética: a O =

ao, a Aquela = àquela, etc.). Exemplos frásicos: a O que tudo pode: a Aquela

que nos protege.

c) Emprega-se o apóstrofo nas ligações das formas santo e santa a nomes do hagiológio,

quando importa representar a elisão das vogais finais o e a:

Sant’Ana, Sant'Iago, etc. É, pois, correto escrever: Calçada de Sant'Ana. Rua

de Sant'Ana; culto de Sant'Iago, Ordem de Sant'Iago. Mas, se as ligações

deste gênero, como é o caso destas mesmas Sant'Ana e Sant'Iago, se tornam

perfeitas unidades mórficas, aglutinam-se os dois elementos: Fulano de Santana,

ilhéu de Santana, Santana de Parnaíba; Fulano de Santiago, ilha de Santiago,

Santiago do Cacém. Em paralelo com a grafia Sant'Ana e congêneres,

emprega-se também o apóstrofo nas ligações de duas formas antroponímicas,

quando é necessário indicar que na primeira se elide um o final: Nun'Álvares,

Pedr'Eanes.

Note-se que nos casos referidos as escritas com apóstrofo, indicativas de elisão,

não impedem, de modo algum, as escritas sem apóstrofo: Santa Ana, Nuno

Álvares, Pedro Álvares, etc.

d) Emprega-se o apóstrofo para assinalar, no interior de certos compostos, a elisão

do e da preposição de, em combinação com substantivos: horda-d'água.

cobra-d'água, copo-d'água, estrela-d'alva, galinha-d'água, màe-d'água, paud'água,

pau-d'alho, pau-d'arco, pau-d'óleo.

2º) São os seguintes os casos em que não se usa o apóstrofo:

Não é admissível o uso do apóstrofo nas combinações das preposições de e

em com as formas do artigo definido, com formas pronominais diversas e com

formas adverbiais (excetuado o que se estabelece nas alíneas 1º) a) e 1º) b) ).

Tais combinações são representadas:

a) Por uma só forma vocabular, se constituem, de modo fixo, uniões perfeitas:

i) do, da, dos, das; dele, dela, deles, delas; deste, desta, destes, destas, disto; desse,

dessa, desses, dessas, disso; daquele, daquela, daqueles, daquelas, daquilo;

destoutro, destoutra, destoutros, destoutras; dessoutro, dessoutra, dessoutros,

dessoutras; daqueloutro, daqueloutra, daqueloutros, daqueloutras; daqui;

daí; dali; dacolá; donde; dantes (= antigamente);

ii) no, na, nos, nas; nele, nela, neles, nelas; neste, nesta, nestes, nestas, nisto;

nesse, nessa, nesses, nessas, nisso; naquele, naquela, naqueles, naquelas, na24

quilo; nestoutro, nestoutra, nestoutros, nestoutras; nessoutro, nessoutra, nessoutros,

nessoutras; naqueloutro, naqueloutra, naqueloutros, naqueloutras;

num, numa, nuns, numas; noutro, noutra, noutros, noutras, noutrem; nalgum,

nalguma, nalguns, nalgumas, nalguém.

b) Por uma ou duas formas vocabulares, se não constituem, de modo fixo, uniões

perfeitas (apesar de serem correntes com esta feição em algumas pronúncias):

de um, de uma, de uns, de umas, ou dum, duma, duns, dumas; de algum,

de alguma, de alguns, de algumas, de alguém, de algo, de algures, de

alhures, ou dalgum, dalguma, dalguns, dalgumas, dalguém, dalgo, dalgures,

dalhures; de outro, de outra, de outros, de outras, de outrem, de outrora, ou

doutro, doutra, doutros, doutras, doutrem, doutrora; de aquém ou daquém; de

além ou dalém; de entre ou dentre.

De acordo com os exemplos deste último tipo, tanto se admite o uso da locução

adverbial de ora avante como do advérbio que representa a contração dos

seus três elementos: doravante.

Obs.: Quando a preposição de se combina com as formas articulares ou

pronominais o, a, os, as, ou com quaisquer pronomes ou advérbios começados

por vogal, mas acontece estarem essas palavras integradas em construções de infinitivo,

não se emprega o apóstrofo, nem se funde a preposição com a forma

imediata, escrevendo-se estas duas separadamente: afim de ele compreender;

apesar de o não ter visto; em virtude de os nossos pais serem bondosos; o fato de

o conhecer; por causa de aqui estares.

BASE XIX

DAS MINÚSCULAS E MAIÚSCULAS

1º) A letra minúscula inicial é usada:

a) Ordinariamente, em todos os vocábulos da língua nos usos correntes.

b) Nos nomes dos dias, meses, estações do ano: segunda-feira; outubro; primavera.

c) Nos bibliónimos/bibliônimos (após o primeiro elemento, que é com maiúscula,

os demais vocábulos, podem ser escritos com minúscula, salvo nos nomes

próprios nele contidos, tudo em grifo): O Senhor do paço de Ninães, O Senhor

do paço de Ninães, Menino de engenho, Árvore e Tambor ou Árvore e

Tambor.

d) Nos usos de fulano, sicrano, beltrano.

25

e) Nos pontos cardeais (mas não nas suas abreviaturas): norte, sul (mas: SW sudoeste).

f) Nos axiónimos/axiônimos e hagiónimos/hagiônimos (opcionalmente, neste

caso, também com maiúscula): senhor doutor Joaquim da Silva, bacharel

Mário Abrantes, o Cardeal Bembo; santa Filomena (ou Santa Filomena).

g) Nos nomes que designam domínios do saber, cursos e disciplinas (opcionalmente,

também com maiúscula): português (ou Português), matemática (ou

Matemática); línguas e literaturas modernas (ou Línguas e Literaturas Modernas).

2º) A letra maiúscula inicial é usada:

a) Nos antropónimos/antropônimos, reais ou fictícios: Pedro Marques; Branca

de Neve, D. Quixote.

b) Nos topónimos/topônimos, reais ou fictícios: Lisboa, Luanda, Maputo, Rio de

Janeiro; Atlântida, Hespéria.

c) Nos nomes de seres antropomorfizados ou mitológicos: Adamastor; Neptuno/

Netuno.

d) Nos nomes que designam instituições: Instituto de Pensões e Aposentadorias

da Previdência Social.

e) Nos nomes de festas e festividades: Natal, Páscoa, Ramadão, Todos os Santos.

f) Nos títulos de periódicos, que retêm o itálico: O Primeiro de Janeiro, O Estado

de São Paulo (ou S. Paulo).

g) Nos pontos cardeais ou equivalentes, quando empregados absolutamente:

Nordeste, por nordeste do Brasil, Norte, por norte de Portugal, Meio-Dia, pelo

sul da França ou de outros países, Ocidente, por ocidente europeu, Oriente,

por oriente asiático.

h) Em siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais ou nacionalmente reguladas

com maiúsculas, iniciais ou mediais ou finais ou o todo em maiúsculas:

FAO, NATO, ONU; H2O, Sr., V. Exª.

i) Opcionalmente, em palavras usadas reverencialmente, aulicamente ou hierarquicamente,

em início de versos, em categorizações de logradouros públicos:

(rua ou Rua da Liberdade, largo ou Largo dos Leões), de templos (igreja ou

Igreja do Bonfim, templo ou Templo do Apostolado Positivista), de edifícios

(palácio ou Palácio da Cultura, edifício ou Edifício Azevedo Cunha).

26

Obs.: As disposições sobre os usos das minúsculas e maiúsculas não obstam

a que obras especializadas observem regras próprias, provindas de códigos

ou normalizações específicas (terminologias antropológica. geológica, bibliológica,

botânica, zoológica etc.), promanadas de entidades científicas ou normalizadoras,

reconhecidas internacionalmente.

BASE XX

DA DIVISÃO SILÁBICA

A divisão silábica, que em regra se faz pela soletração (a-ba-de, bru-ma, cacho,

lha-no, ma-lha, ma-nha, má-xi-mo, ó-xi-do, ro-xo, te-me-se), e na qual, por

isso, se não tem de atender aos elementos constitutivos dos vocábulos segundo a

etimologia (a-ba-li-e-nar, bi-sa-vó, de-sa-pa-re-cer, di-sú-ri-co, e-xâ-ni-me, hipe-

ra-cús-ti-co, i-ná-bil, su-bo-cu-lar, su-pe-rá-ci-do), obedece a vários preceitos

particulares, que rigorosamente cumpre seguir, quando se tem de fazer em fim

de linha, mediante o emprego do hífen, a partição de uma palavra:

1º) São indivisíveis no interior de palavra, tal como inicialmente, e formam, portanto,

sílaba para a frente as sucessões de duas consoantes que constituem

perfeitos grupos, ou sejam (com exceção apenas de vários compostos cujos

prefixos terminam em h, ou d: ab- legação, ad- ligar, sub- lunar, etc., em vez

de a-blegação, a-dligar, su-blunar, etc.) aquelas sucessões em que a primeira

consoante é uma labial, uma velar, uma dental ou uma labiodental e a segunda

um l ou um r: ablução, cele-brar, du-plicação, re-primir; a-clamar, decreto,

de-glutição, re-grado; a-tlético, cáte-dra, períme-tro; a-fluir, a-fricano,

ne-vrose.

2º) São divisíveis no interior da palavra as sucessões de duas consoantes que não

constituem propriamente grupos e igualmente as sucessões de m ou n, com

valor de anasalidade, e uma consoante: ab-dicar, Ed-gordo, op-tar, sub-por,

absoluto, ad-jetivo, af-ta, bet-samita, íp-silon, ob-viar; des-cer, dis-ciplina,

flores-cer, nas-cer, res-cisão; ac-ne, ad-mirável, Daf- ne, diafrag-ma, drac--

ma, ét-nico, rit-mo, sub-meter, am-nésico, interam- nense; bir-reme, cor-roer,

pror-rogar; as-segurar, bis-secular, sos- segar; bissex-lo, contex-to, ex-citar,

atroz-mente, capaz-mente, infeliz- mente; am-bição, desen-ganar, en-xame,

man-chu, Mân-lio, etc.

3º) As sucessões de mais de duas consoantes ou de m ou n, com o valor de nasalidade,

e duas ou mais consoantes são divisíveis por um de dois meios: se nelas

entra um dos grupos que são indivisíveis (de acordo com o preceito 1º),

esse grupo forma sílaba para diante, ficando a consoante ou consoantes que o

precedem ligadas à sílaba anterior; se nelas não entra nenhum desses grupos,

a divisão dá-se sempre antes da última consoante. Exemplos dos dois casos:

27

cambraia, ec-tlipse, em-blema, ex-plicar, in-cluir, ins-crição, subs-crever,

trans-gredir; abs-tenção, disp-neia, inters-telar, lamb-dacismo, sols-ticial,

Terp-sícore, tungs-tênio.

4º) As vogais consecutivas que não pertencem a ditongos decrescentes (as que

pertencem a ditongos deste tipo nunca se separam: ai-roso, cadei-ra, insti-tui,

ora-ção, sacris-tães, traves-sões) podem, se a primeira delas não é u precedido

de g ou q, e mesmo que sejam iguais, separar-se na escrita: ala-úde, áreas,

co-apeba, co-ordenar, do-er, flu-idez, perdo-as, vo-os. O mesmo se aplica

aos casos de contiguidade de ditongos, iguais ou diferentes, ou de ditongos e

vogais: cai-ais, caí-eis, ensaí-os, flu-iu.

5º) Os digramas gu e qu, em que o u se não pronuncia, nunca se separam da vogal

ou ditongo imediato (ne-gue, ne-guei; pe-que, pe-quei, do mesmo modo

que as combinações gu e qu em que o u se pronuncia: á-gua, ambí-guo, averi-

gueis; longín-quos, lo-quaz, quais-quer.

6º) Na translineação de uma palavra composta ou de uma combinação de palavras

em que há um hífen, ou mais, se a partição coincide com o final de um

dos elementos ou membros, deve, por clareza gráfica, repetir-se o hífen no

início da linha imediata: ex-alferes, serená- -los-emos ou serená-los- -emos,

vice- -almirante.

BASE XXI

DAS ASSINATURAS E FIRMAS

Para ressalva de direitos, cada qual poderá manter a escrita que, por costume

ou registro legal, adote na assinatura do seu nome.

Com o mesmo fim, pode manter-se a grafia original de quaisquer firmas

comerciais, nomes de sociedades, marcas e títulos que estejam inscritos em registro

público.